Quem é que é mesmo preconceituoso?

25/02/2019 – Eurobarómetro

Portugueses têm mais dificuldade em identificar notícias falsas do que europeus

“Os cidadãos portugueses têm mais dificuldade em identificar notícias que deturpam a realidade ou que são objetivamente falsas do que a média dos cidadãos europeus, revela o Eurobarómetro sobre a Opinião Pública na União Europeia, divulgado esta segunda-feira.”

Na verdade, não é nada que me espante. Diáriamente oiço as maiores barbaridades em conversas chamadas de café ou nos transportes públicos e não só… Quem debita as asneiras diz que ouviu ou leu em jornais ou na internet. Quem as ouve, ao ouvir as referências à Comunicação Social, assume que é a pura da verdade e nem lhe passa pela cabeça confirmar a veracidade do que ouve. Para mim, isso é um sinal enorme de ignorância. Já há muito que cheguei à conclusão de nada adiantar argumentar com pessoas assim, se não tivermos a mesma opinião. Por mais que se tente abrir os olhos para a possibilidade do que está a ser afirmado ser falso, que existe a necessidade de o confirmar, que para isso basta – na maior parte das vezes – investigar a fonte auto-proclamada “fidedigna” e chegar à conclusão de que ou não passam de tretas ou são pura mentira ou então que são completamente descontextualizadas e intencionalmente manipuladas, é uma missão inglória. E ainda ficamos expostos à ligeireza de sermos classificados como fascistas, homofóbicos, machistas, etc.,etc., apenas quando questionamos a veracidade de certas notícias.
Mas, ainda o que me impressiona mais, é observar essa ignorância de ser uma “Maria-vai-com-as-outras-sem-qualquer-confirmação-dos-factos” em pessoas que tiveram acesso a uma boa educação, que estudaram e se formaram em boas Universidades – que seriam, por definição, o melhor dos meios para nos ensinar a julgar, pensar e formatar a nossa educação através do conhecimento e do saber – de uma forma muito pouco abonatória para eles próprios. Mas suponho que até nem importa muito pois, olhando à volta, é a grande maioria que se deixa levar pelos lugar-comuns e pelos politicamente-correctos de hoje em dia. A Comunicação Social que nos calhou, salvo raríssimas excepções, é medíocre e demasiado opinativa para divulgar ou relatar algum acontecimento imparcialmente.. e não é só a Portuguesa. De alguma maneira sinistra, quase todo o Jornalismo Internacional está entregue à Bicharada. Ignoram sistematicamente aquela máxima de que um Jornalista se deve conter nas suas convicções pessoais e que apenas deve relatar ou descrever o que se passou, com todos os factos confirmados.
Exemplos mais flagrantes recentes são Donald Trump e Jair Bolsonaro.
Frequentemente vejo títulos verdadeiramente incríveis sobre o que um ou o outro fizeram, disseram ou até (imagine-se!) o que pensaram. Faço sempre questão de ler o artigo na íntegra e, sempre que consigo, vou procurar o original da entrevista, discurso ou texto da autoria deles. Posso dizer-lhes que mais de noventa por cento dos títulos são enganosos, manipulados ou até mesmo pura invenção da mente pouco escrupulosa do jornalista que assina o artigo enganoso.
E não, eu não sou a favor nem do Trump nem do Bolsonaro.
Não conheço suficientemente as suas histórias de vida para me puder pronunciar e com quase toda a imprensa a fazer campanha contra eles, fica muito difícil para mim conhecê-los melhor. Mas posso dizer que, em todas as entrevistas que ouvi, no formato original, de Bolsonaro, não consegui distinguir aqueles “males terríveis” de que o acusam: ele é homofóbico porque não acha natural a homossexualidade: eu também acho a  homossexualidade contra-natura. Mas, tal como ele, respeito quem o for, e reconheço-lhes todos os direitos que qualquer heterossexual tem. Todos, menos os que, na minha opinião, vão contra o desenvolvimento normal de, por exemplo, crianças. Não concordo que se autorize a adopção de crianças a parelhas homossexuais. Nem sequer vale a pena estar aqui a explicar porquê, pois não é este o tema deste texto.
Outra coisa de que o acusam é de ser Machista. Ora, ser machista, para os que o criticam até à exaustão, parece ser o mesmo que defender a família e todos os valores à sua volta, tais como ser contra o aborto, etc., etc.. Bem, sendo assim, parece que também sou Machista, pelo menos segundo os critérios dos oponentes a Bolsonaro…
Também é muito criticado por querer autorizar a posse e/ou o porte de armas. Na verdade eu acho que “violência gera violência” mas, num país como o Brasil onde morrem milhares de pessoas por ano em assaltos, raptos, ou violações, consigo compreender que, depois de tantas medidas fracassadas para diminuir esse tipo de criminalidade, se implante uma nova medida para, pelo menos, tentar intimidar os “amigos do alheio” e os assassínos. Se resulta ou não? Não sei. Nem eu nem os auto-proclamados  especialistas desse assunto o sabem, apesar de opinarem como se o soubessem…

Vejam este video, um belo exemplo do que aqui falo:

Quanto a Donald Trump, passa-se exactamente o mesmo. Ele é uma pessoa pouco polida, e sobretudo não tem o dom da palavra. Por vezes faz marcha atrás naquilo que impulsivamente disse, decidiu ou estabeleceu. Mas o exagero de tudo o que parte dele, a manipulação fora de contexto e até mesmo a mentira sobre tudo o que diz ou faz é patético. Ao muro que há muito existe a delimitar a fronteira com o México, é-lhe atribuida a sua autoria. A Terceira guerra Mundial (nuclear!) já quase esteve com data marcada, despoletada por ele, pelo único Presidente que conseguiu chegar à fala com a Coreia do Norte, e que tem conseguido negociar com Kim Jong-un como mais ninguém o conseguiu fazer antes. Mal ou bem conseguido mas tem-se encontrado com ele.
Quando pergunto porque não gostam dele, respondem assim:

– “O tipo é um anormal!”
– “Sempre foi mulherengo!”
– “Ele é muito mau com as mulheres!”
– “Ele dantes comprava fábricas na falência, reestruturava-as e depois de despedir quase todos os trabalhadores, vendia-as por uma batelada de dinheiro!”
– “O Trump é um casca grossa, odeia homossexuais.”

E não consigo que me expliquem melhor ou mais aprofundadamente porque não gostam mesmo dele. Quem me deu a quarta resposta que transcrive em cima, foi um casal de Americanos que conheci quando fui a Santiago de Compostela. Não o perdoavam pelos inúmeros trabalhadores que ele, ao vender as tais fábricas, indirectamente mandou para o desemprego. Para eles, isso era a própria definição de malvadez de Trump, razão porque achavam que ele era um mau Presidente.
Agora, os opositores de Trump, decidiram fazer uma investida sem precedentes em todo o passado e presente de Trump, para ver se descobrem alguma coisa mais concreta que os ajude a destituí-lo do cargo de Presidente:

“A ideia parece ser agora fazer um trabalho mais aprofundado sobre todo o universo Trump e as suspeitas que recaem sobre o presidente, unindo pontas soltas ou temas que fazem parte de outras investigações sem aparente ligação entre si.”

Se usassem a mesma energia, recursos e criatividade para ajudar quem precisa, é que era uma grande coisa!

Deixo aqui um artigo de opinião que, para mim, exemplifica bem o que eu penso sobre a homofóbica perseguição a Donald Trump:

 TERESA DE SOUSA

OPINIÃO

Trump não é uma piada

Trump não é uma piada, como fazem crer, muitas vezes, os jornalistas das televisões e a sua base de apoio é basicamente indiferente à inteligência crítica que se dá ao luxo de desprezar o Presidente que elegeram.

13 de janeiro de 2019

Partilhar notícia

Partilhar no Facebook

Partilhar no Twitter

Partilhar no WhatsApp

Partilhar no LinkedIn

Partilhar no Google+

1. Nos dias que correm, começa a ser perturbador passar algum tempo seguido diante das televisões por cabo americanas. Os canais de notícias, sejam da CNN ou da MSNBC ou da FOX, têm apenas um tema. Nem vale a pena dizer qual é. O mundo fica de fora, ou melhor, o mundo fica de fora desde que o Presidente não se lembre de interferir com ele, o que também não é raro, dada a omnipresença dos EUA. Donald Trump, é bom acrescentar, fornece hora a hora, minuto a minuto, matéria para manter esta corrente ininterrupta de notícias que não são bem notícias. Ou, pelo menos, que são apresentadas de uma forma que foge ao velho conceito jornalístico de notícia. Os apresentadores-comentadores-animadores dos sucessivos programas das televisões por cabo – as estrelas dos respectivos canais – já não se coíbem de iniciar as notícias sobre o Presidente com um sorriso irónico nos lábios, antecipando mais um grande espectáculo. Vejam lá o que ele acaba de dizer! Normalmente, Trump faz jus a esta forma original de apresentação. Nos últimos dias, o célebre muro ao longo de toda a fronteira com o México e o consequente shutdown parcial da administração federal (que atinge 800 mil funcionários públicos e que começa a atingir fortemente os mais vulneráveis e indirectamente os principais serviços) são praticamente a única notícia que merece referência constante. O que Trump-candidato disse sobre o muro. O que Trump-Presidente disse sobre o muro. O que diz hoje e dirá provavelmente amanhã sobre o muro. Com um novo condimento saído directamente da mudança de maioria na Câmara de Representantes do Congresso, que passou para os democratas, que deixou de assinar de cruz a sua vontade ou de garantir a sua imunidade aos escândalos que o envolvem.

PUB

2. Mas voltemos às notícias. Ou melhor, à ausência delas. O apresentador sorri, anuncia a “última” birra ou o último tweetde Trump, como quem diz: “Vejam só, o tipo ultrapassa-se a si próprio” ou “pensavam que já tinham visto tudo?”. Os comentadores convidados, analistas de vários órgãos de comunicação social, académicos ou membros de anteriores administrações, dão a sua própria versão da última ideia peregrina do Presidente ou do seu comportamento muito pouco (ou mesmo nada) presidenciável. São poucas as vozes de quem se proponha defendê-lo, à excepção dos membros do Partido Republicano ou de um ou outro comentador. Trump tem dificuldade em encontrar gente para preencher os quadros de pessoal da Casa Branca ou até o chefe do Pentágono. É natural que a CNN não tenha à sua disposição um leque vasto de gente disposta a fundamentar as decisões deste Presidente, mas acaba por tornar-se extremamente redutora esta forma de informar e pode representar, ela própria, um enorme risco.
3. Claro que esta conversão das notícias em opiniões e, sobretudo, em piadas, não atinge da mesma maneira os grandes jornais de referência que, de um modo geral, continuam tão bons como sempre foram. Mas há apesar de tudo uma tendência inquietante para a transformação das suas páginas de opinião numa pauta de uma nota só. Apenas o exemplo do Washington Post de sábado: “Trump is the president of the Republican base – not the country”; “The country needs a Republican to challenge Trump in 2020”; “Sister Norma wanted to show Trump what it is like on the border. He didn’t care to listen”; “The Wall is a testament to Trump’s toxic narcissism”. É verdade que qualquer pessoa com um mínimo de bom senso e de cultura política percebe que ele não foi talhado para ocupar o lugar que lhe dá um poder enorme sobre o mundo, ainda mais do que um poder enorme sobre a América. A vitória dos Democratas na Câmara, a saída do último “adulto na sala” (como se diz por lá sobre a demissão do secretário da Defesa James Mattis), a queda nas sondagens (mesmo assim, mantém 43 por cento de aprovação), a aproximação da próxima corrida presidencial (as “primárias” estarão lançadas no Verão deste ano) tornaram-no uma figura ainda mais solitária, que facilmente imaginamos a percorrer as salas da Casa Branca vociferando contra todos os que o querem impedir de construir o “belíssimo muro” que prometeu aos americanos em 2016, a ter de encarar Nancy Pelosi, o rosto da nova realidade que tem de enfrentar no Congresso, ou ouvir as jovens caras novas da Câmara dos Representantes exigirem sem pedir autorização a ninguém o seu “impeachment” ou, sobretudo, o cerco judicial a apertar-se à sua volta, por via dos seus mais próximos colaboradores na campanha de 2016 (alguns já presos) e com um Congresso disposto a obrigá-lo finalmente a responder às suas perguntas, sejam elas sobre a declaração de rendimentos que não entrega, ou eventuais tentativas de obstrução da justiça ou de conluio com uma potência estrangeira para ganhar as eleições. Ainda pode contar com um Senado que lhe é favorável e com um Partido Republicano que manteve refém durante os dois primeiros anos de mandato, mas que começa a desacreditar na sua invencibilidade e a fazer contas às próximas eleições para os lugares de senadores que vão estar em disputa em 2020. Mesmo que continue a não haver qualquer sinal de uma alternativa à sua recandidatura ou que a sua base eleitoral que se mantém fiel continue a ser vasta o suficiente para lhe garantir uma plataforma de lançamento para o segundo mandato, que provavelmente nenhum outro candidato republicano teria.

PUB

4. O  problema é que Trump não é uma piada, como fazem crer, muitas vezes, os jornalistas das televisões e a sua base de apoio é basicamente indiferente à inteligência crítica que se dá ao luxo de desprezar o Presidente que elegeram. Muito mais importante ainda, Trump não é um fait-divers, um fenómeno passageiro perante o qual nos baste fechar os olhos e esperar que passe. É, pelo contrário, a expressão mais ou menos caricatural de uma forte corrente de opinião entre os americanos que vê nos imigrantes um perigo, no mundo uma despesa supérflua, nas tropas na Síria uma inutilidade ou nas institucionais multilaterais uma perda de tempo e de dinheiro. E, acima de tudo, que está farta de uma certa elite “costeira” geralmente sem problemas na vida, que vêem a uma distância incomensurável dos seus próprios problemas, que não lhes liga nem os compreende e que tem entre os seus mais lídimos representantes os jornalistas das grandes cadeias de informação e da grande imprensa de referência. Fazer dele uma piada é justamente abdicar de debater aquilo que ele representa. Esperar que passe não resolver nenhum dos problemas que levaram à sua eleição nem aqueles que ele próprio criou desde que foi eleito. Mas mais ainda. Este clima de polarização mediática acaba por servir às mil maravilhas os seus objectivos eleitorais. O muro? Que disparate. As próprias sondagens dizem que uma maioria de americanos o acha desnecessário. Mas a retórica contra os imigrantes, descritos como terroristas, ladrões, drogados, criminosos de toda a espécie, que vem associada ao muro, essa não deixou de ser popular entre muita gente. Trump diz que entraram 6 mil terroristas pela fronteira com o México. O FBI diz que foram só meia dúzia. Trump diz que falou com os seus antecessores na Casa Branca e que todos eles admitiram a necessidade do muro. Nenhum falou com ele sobre o assunto. Trump diz que os Democratas querem um muro desde que seja de metal. Não querem. Chocante? Com certeza. O problema é que, como escreveu já há algum tempo a revista The Atlantic, “os media não perceberem o fenómeno Trump na sua real dimensão porque o levaram à letra mas não o levaram a sério, enquanto os seus apoiantes o levaram a sério, ainda que não literalmente.”

Publicado por cristina sottomayor

Tudo o que eu escrevo aqui é um misto de vivências minhas e pura ficção. Mas mesmo na ficção, não consigo deixar de ser inspirada por momentos bons ou maus que vivi ou vi acontecerem à minha volta.

Junte-se à conversa

1 comentário

Comentar