Esta semana passei pela montra de uma loja de Bijouterie e vi uns brincos muito giros. Entrei para os ver melhor e saber o preço. Ainda nem sequer a minha mão tinha alcançado os brincos e oiço uma voz vinda de trás de mim que me diz:
-“Esses brincos estão todos em promoção! Uma óptima escolha que a Senhora faz: leva três e só paga dois!”
-“Há… Obrigada, vou só dar uma vista de olhos..”
-“Aqui tem um cestinho para colocar tudo o que quiser comprar – e passa-me para a minha única mão livre o tal cesto. Tive mesmo que o agarrar, pois o empregado passou-mo tão rápido que correu o risco de cair ao chão, o pobre cesto…
O rapaz parecia-me ser o que agora chamam de Metro Sexual, sem um pelo de barba à mostra, calças justíssimas com rasgões de cima a baixo a deixarem muita pele à vista. Camisola colada ao corpo, preta e de um tecido acrílico que brilhava e que quase deixava ver os seus músculos desenhados, se os tivesse… porque o rapaz era magricela e os ombros mais estreitos que as ancas, assim não há milagres! O cabelo era uma perfeita obra de arte moderna. De um lado estruturado como se fosse uma rampa de lançamento que terminava numa pista lisa e rapada, do lado oposto da cabeça. Essa rapadela era com certeza propositada para se ver bem a quantidade infinita de brincos, piercings e tatuagens que o pobre tinha nas suas orelhas deformadas com tanto peso e todo o seu pescoço. Só Deus sabe o que iria pelo seu peito abaixo, porque nesse dia a sua camisola justa, também ao pescoço, já não deixava ver mais nada. Os sapatos que calçava eram um espanto: de atacadores e a pele era aos quadrados estilo tabuleiro de Xadrez. Batia enérgicamente com os tacões no chão – que eram metálicos – não havendo, por isso, ninguém que não olhasse para eles, incluindo eu… onde se compram sapatos assim?? Para acabar bem o conjunto, tinha umas meias rosa-choque que lhe sobressaíam no espaço que sobrava entre os sapatos e a bainha das suas calças muito curtas. Tudo isto eu observei o mais discretamente que consegui, enquanto ia vendo e mexendo nos brincos. Assim como também reparei que o rapaz era uma verdadeira simpatia e tinha um olhar muito meigo e confiante. Falava pelos cotovelos e com toda a gente, colegas e clientes. Provocava gargalhadas e sorrisos em todos que estavam à sua volta. E estava eu a sorrir com uma coisa qualquer engraçada que ele tinha dito, quando se dirige a mim, a bater palmas e a gritar:
“-Minha querida Senhora! Eu amo os seus óculos! Eu simplesmente estou apaixonado por eles! Meninas, Meninas! Venham rápido ver os óculos desta Senhora!!”
E no meio dos seus guinchos e berros de felicidade e elogios aos óculos que eu tinha posto para conseguir ver os preços melhor, eu disse-lhe que normalmente são as crianças que reparam na assimetria dos meus óculos (uma lente é redonda e a outra é quadrada) dizendo mesmo frases no género de:
“-Os teus óculos estão estragados!”
Ou então:
“-Consegues ver bem assim?”
E o empregado exclama, todo feliz:
“- Eu sou uma criança no meu íntimo! Eu sou o Peter Pan da cidade do Porto! Eu não quero crescer nunca…”
Gargalhada geral, óculos inspeccionados e transmitida a informação de onde os comprei, lá voltei eu para os brincos e tudo o mais que o Peter Pan me apanhava a olhar… tudo parecia estar em excelente promoção! Ou levava quatro e pagava dois, ou se comprasse três tinha 30 por cento de desconto, ou se quisesse juntar mais-não-sei-o-quê ficava com vale de 50 por cento de desconto para a próxima compra… confesso que já estava baralhada. E a velocidade estonteante com que ele me dava todas estas informações quase me deixaram escapar a sua proposta:
“-Minha Senhora, não lhe apetece modernizar um pouco mais o seu Look? Que tal fazer uns furos na cartilagem de cima das suas orelhas? Até podiam ser em alturas desencontradas… ficava o máximo! Tenho ali uma promoção de piercings fantástica: cada pacote tem 24 diferentes e estão com um desconto espetacular de 70 por cento! Vamos aproveitar este dia para ficarmos mais modernos?”
O que mais me preocupou foi ele ter começado a dirigir-se a mim referindo-se a “nós”… senti um bocado de pressão psicológica psicopata… E foi aí que, a rir e a dizer que não ao mesmo tempo me dirigi para a caixa, apressadamente e sem me atrever a olhar para mais nada, não fosse o Peter Pan insistir com mais alguma compra que me era absolutamente indispensável, segundo ele…
“-Você é um bom vendedor! Já estou aqui a comprar o que não preciso….”
Risos para cá, risos para lá, e finalmente saí da loja, ainda meio-tonta e divertida com o Peter Pan do Porto. Trazia comigo:
-2 máscaras faciais de Pepino e outras duas de morango.
-2 batons de brilho (um foi oferta)
-3 pares de brincos (só queria umas argolas prateadas)
-1 fita de feltro para o cabelo e uma touca de banho para não o molhar, coisa que nunca usei na minha vida.
-1 blister com 12 elásticos para o cabelo com 12 ganchos de oferta, que não uso.
-2 sabonetes exfoliantes com duas esponjas de oferta.
E olhem que eu não sou uma cliente influenciável… sempre detestei que andassem empregados atrás de mim a opinar sobre tudo, despacho-os logo… mas a este, tiro-lhe o chapéu: o Peter Pan era um bom vendedor, sim Senhor! E ainda por cima, fazia-me rir, o que me faz sempre sentir muito bem.
Para mim, acabaram-se os saldos! Vou agora tratar de distribuir os “géneros indispensáveis”. As máscaras faciais já têm nova dona… falta o resto!