Fui pescada. Nunca o tinha sido, há sempre uma primeira vez para tudo. Ainda por cima fui pescada em “Segunda mão”, nem sequer fui a primeira escolha, tive um peixe à minha frente!
Hoje de manhã, continuando com os meus passeios matinais na Marginal do Douro pelo passadiço de Gaia, cruzei-me, como todos os dias o faço, com um dos muitos grupos de Pescadores à linha.
Vi um desses pescadores a tirar da água um grande peixe, um belíssimo Robalo que rabejava sem parar a tentar livrar-se do anzol.
“-Que belo peixe!” – disse eu ao passar.
E na mais improvável das improváveis possibilidades, nesse preciso momento o peixe conseguiu soltar-se do anzol que se veio cravar na minha perna direita quando eu já ia um ou dois metros à frente. Senti-o logo, ao mesmo tempo que, sem querer, dei mais um passo e sem perceber o que estava acontecer, acabei por o enterrar ainda mais na minha perna. Parei e o pescador, o Sr. Francisco, veio muito aflito ter comigo, tentou tirar o anzol mas verificamos que o fio de pesca se tinha solto e não se via nada do metal para se conseguir, eventualmente (tradução: se eu deixasse…) tirar o anzol. Ele – o anzol -enterrou-se por completo desaparecendo da superfície da barriga da minha perna! E aquilo doía, bastava mexer-me um pouco. Não conseguia andar. Juntaram-se uma meia-dúzia de pescadores e como já o ditado diz, cada cabeça sua sentença. Um deles chegou mesmo a aproximar-se muito perigosamente da minha perna, de canivete em riste, mas eu protegi de imediato o meu “património” declarando que não queria que ele me “operasse” ali assim, que lhe agradecia muito mas preferia que não o fizesse!
Entretanto, enquanto esperava que me viessem buscar, tive que consolar o Sr. Francisco que estava numa aflição só:
-” Meu Deus! E a mim que todos me chamam de “Francisco o Chato”, por estar sempre a dizer-lhes que têm que ter muito cuidado ao lançar a linha, para não magoarem ninguém que vá a passar! Havia logo de me acontecer a mim… a Senhora desculpe, eu nunca imaginei que isto pudesse acontecer!”
-“Oh, Sr. Francisco, não se aflija… podia acontecer a qualquer um! E se alguém tivesse culpa aqui era o peixe, não o Senhor!”
Acabei por ir tirar o raio do anzol ao Santo António.
Fui muito bem atendida, tiveram que me fazer um Raio X para verem em que posição estava o dito. Antibiótico, analgésico e anestesia local, iam-me dando tudo isso enquanto passava de mãos em mãos. O meu nome passou a ser a “Senhora do Anzol”:
-“Ah, a Senhora é que é a do anzol, dizia uma enfermeira.”
-“Tens aqui a Senhora do anzol para fazer um Raio X…”
-” A Senhora do anzol, deseja chá, um café, umas bolachas?”
E o Dr. Miguel, o Cirurgião que me “esgravatou dolorosamente” a perna para sacar cá para fora o anzol ainda me perguntou enquanto o fazia:
-“Sabe que me está a vir à memória a música do anzol? Lembra-se dessa música?”
-“Musica do anzol? Não me lembro… como era?”
E o Dr. Miguel começa a cantarolar assim:
“… Eu não sei, se hei-de fugir
Ou morder o anzol…
Já não há nada de novo
Debaixo do sol….
Debaixo do sol!”
-“Ah! Agora lembro-me, Rádio Macau, o Anzol!”
Ainda dizem que o nosso SNSaúde não funciona bem… é que o Dr. Miguel não cantava nada mal!
Final feliz para mim e final infeliz para o peixe…
Post S. 1 – não, o Robalo não escapou: ao soltar-se do anzol não conseguiu voltar para o rio, ficou no passadiço…. to bad for him!
Post S. 2 – não, não pedi o Robalo ao Sr. Francisco à laia de indemnização… quase lhe ofereci eu um presente, para ele se animar um pouco com tamanha desdita!