O meu coração dói-me. O meu coração está triste e eu não sei como o hei-de consolar. O meu coração perdeu esperança e agora sente-se atordoado. O meu coração até parece que não é meu, não liga nada ao que eu lhe digo, ao muito que eu lhe peço e já não me obedece.
Como vou eu conseguir fazer o meu coração parar de magoar, de apertar-me assim tanto o peito? Como se estancam as lágrimas que me brotam dos olhos sem a minha autorização? Como se consegue voltar a falar sem que a voz não nos trema?
Como vou querer continuar a fazer a minha vida com esta tenaz implacável dentro do meu peito? Vai ser assim, todos os dias??
Soubera eu como se pára isto tudo e era uma mulher feliz!
Só ele me pode apaziguar, só ele me pode descansar a alma. Só mesmo ele para me salvar o coração que está assim tão doente… Tempo, vem para mim, absorve-me as tormentas e tristezas e leva-as contigo. Eu sei que tu o fazes, mas Tempo, tu que és amigo do vento pede-lhe uma das suas rajadas, daquelas muitas que permitiram às nossas antigas glórias passar o Gigante Adamastor!
Soprando rápido e forte podias acelerar o sacudir das minhas penas, dos meus desenganos. Eu não os quero para nada!
Quero sentir chegar a minha bonança, o ponto de repartida para a essência do meu ser que sempre foi alegre e optimista.
Eu já não o quero, mas o meu coração procura-o no meio da multidão, nas ondas do mar, nos rios, nos campos, nos montes e vales por onde passo…
Apre, coração! Não me percas a mim, ganha juízo! Desaperta-me esses teus cruéis torniquetes que me sufocam, que me torturam sem descanso, quem tos encomendou, afinal? Eu não fui, com toda a certeza…
Quero a minha paz, de volta!
Quero deixar para trás o maldito Adamastor, o monstro cruel, o tal Maligno, que se alimenta das minhas entranhas enquanto eu não me consigo libertar das suas garras bem afiadas.
Ai quem me dera que chegue, sem muito tardar, o tempo de olhar para trás e pensar horrorizada que quase fui tragada por ti, mas que me valeu o que de melhor há em mim, a minha fé…
Eu quero dobrar o meu Cabo da Boa Esperança!