Tenho uma Tia que adora camélias. Gosta de tratar delas, de as estacar para as duplicar, de as transplantar, de vigiar as suas necessidades em anos maus, sempre atenta a qualquer debilidade ou fungo que lhes apareça.
A minha Tia que gosta tanto de camélias pinta-as como ninguém. E como quem gosta tanto de uma coisa assim, também gosta de a partilhar. Eu adoro os quadros que tenho das camélias pintadas pela minha Tia. Passo horas a observa-los. Gosto das flores, da sua tanta variedade, gosto das folhas verde-escuro e até gosto das pequenas imperfeições que elas sempre ostentam, como todos nós…
A minha Tia das camélias tem sempre tempo para as colher e as juntar em centros de mesa que brindam os nossos olhares com a pujança da natureza. Os arranjos de flores da minha Tia são quase como que uma marca de água indelével na vida dela. Tenho prazer em olhar para eles, descobrir-lhes o improvável aparelhar de flores, arbustos, galhos ou frutos tão dispares uns dos outros.
A minha Tia que gosta muito de camélias, empresta-me sempre a sua tesoura de poda favorita para eu colher um ramo. E gosta sempre dos que eu construo, tem sempre uma palavra amável para descrever o que eu juntei. Por vezes até diz:
-“Que bonito que ficou o teu ramo! Espera, deixa-me tirar-lhe uma fotografia…”
E na minha visita seguinte, vejo um outro quadro pintado por ela: o meu último ramo de flores! A minha Tia imortaliza dessa maneira as suas flores, pintando-as. Mas que não pensem que é só de camélias que a minha Tia gosta. Na verdade eu até acho é que são as camélias que gostam dela… assim como gostam as rosas, as dálias, os jacintos, os miosótis, as violetas africanas, os malmequeres, e tantas outras mais! Todas as flores também têm as suas pessoas favoritas. A minha Tia é a preferida de quase todas as flores. Tenho a certeza que elas adoram os seus olhos azul-Irlandês e o seu sorriso sempre bondoso. As flores costumam reparar nessas coisas… A minha Tia tem atenções para elas, arranja sempre tempo para as tratar, para as livrar dos seus botões já secos, para podar os cavalos, para lhes descobrir uma lagarta malvada que come as folhas verdes e tenras, para as alimentar com adubos especiais, enfim…. para as mimar! E é por esses cuidados todos e carinhos que dela recebem que as flores a presenteiam com outras flores cada vez mais belas, e cada vez mais tarde, já lá para o final da estação.
Só flores? Mas que tonta sou eu, só por falar em flores!
Até podiam pensar que a minha Tia não gostava de mais nada… mas gosta! Gosta muito de semear, plantar, e tratar dos legumes da horta e das suas árvores e arbustos de frutos. Tem todos os anos morangos saborosos, framboesas, limões, tangerinas, kiwis e uma guerra sem fim – e sem vitória – para conseguir que os pêssegos e alperces vinguem até ficarem grandes, maduros e saborosos. Tem tomates, alfaces, salsa, rosmaninho e gilas. Couves galegas, nabiças e espargos! Como trata bem dos espargos! Sempre que pode, lá se esgueira para o Choupêlo para ir cobrir as pontas – dos que teimam em aparecer – de terra, para não escurecerem… E que bons são os espargos da minha Tia!
Como eu gosto de ir para o Choupêlo com a minha Tia! Pelo caminho levamos os restos do almoço para deixar na Capoeira, deitamos milho e mais uma boa braçada de couves galegas para a bicharada de bicos e penas. Em troca, trazemos uns ovos para casa.
Umas vezes regamos, outras vezes colhemos frutos ou legumes e outras vezes apenas deambulamos por entre tudo, só para ver como tudo está a crescer, a hibernar ou a ficar muito mais crescido do que no ano passado.
Gosto muito desta minha Tia e gosto muito destes momentos que passo com ela na natureza de que as duas tanto gostamos…
Que Tia tão tão querida. E que texto tão bonito e tão cheio de carinho! Não há amor mais puro do que o dessa Tia pelo seu jardim, pela sua família e pelos que, como ela, gostam tanto desse mesmo jardim.
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