Retalhos de vidas – Segunda parte Mariazinha e António

 

E os dias, os meses e até mesmo mais um ano inteirinho se passaram e António não dava sinais de querer avançar para algo mais sério. As obras na Igreja já tinham terminado e António voltou para Vila Real durante uns tempos. Disse a Mariazinha que precisava de resolver por lá uns assuntos pendentes. Que lhe escreveria a dizer quando vinha de vez para o Porto… E Mariazinha ficou à espera dele. O seu coração tinha esperança que fosse desta vez que ele tomaria a iniciativa para combinar o tal encontro dela com a família dele.
Mas António nunca veio de vez para o Porto. Vinha passar uns dias, uma ou duas semanas até, mas voltava para Vila Real onde os seus assuntos pendentes pareciam a Mariazinha não terem fim nunca. Mas de cada vez que Mariazinha tentava conversar sobre o namoro já ir demasiado longo, António desconversava e enchia a namorada de elogios e carinhos, até ela desmobilizar e esquecer a ideia de lhe pedir mais certezas acerca do futuro de ambos.
Até que o inesperado aconteceu, um dia Mariazinha descobriu que estava grávida. Ficou muito aflita e durante uns intermináveis quatro dias que teve de esperar pela volta de António de Vila Real, passou as amarguras e angústias de uma autêntica penitente. Como contar à Tia? Como fazer para ela não desconfiar? O que iria agora ser da vida dela? Só havia uma solução: casarem os dois o mais rápido possível! Que aflição tamanha sentia a Mariazinha! E foi assim que António a encontrou, no dia em que chegou lá de cima.
– O que foi? Porque estás a chorar, Mariazinha? Diz-me o que se passa, dizes?
– António! Que desgraça… nem sei como te possa dizer…
– Dizendo, Mariazinha! Dizendo.. então o que se passa?
E Mariazinha, no meio de soluços e assoadelas, lá lhe disse que estava grávida. António nem queria acreditar:
– Grávida? Tens a certeza? Raios partam a má sorte! E agora como vamos fazer, não podes estar grávida de mim!
E Mariazinha, que tinha pensado ter estado nos últimos quatro dias a passar por um inferno, só a partir de agora ficaria a saber, infelizmente, o que é viver num verdadeiro inferno.
António mostrou-se frio, egoísta e muito autoritário com ela. Para ele era impossível ter agora um filho. Não tinha condições para o sustentar, argumentava ele e ainda não tinha chegado a altura para a sua família saber do seu namoro com Mariazinha.
Ela, desorientada e muito infeliz com a reacção dele, sem conseguir que ele mudasse de opinião lá se ía aguentando, sem deixar que a Tia alguma coisa percebesse. Para isso, fazia das tripas coração sempre que estava na presença dela.
No dia em que António lhe apareceu em casa, dizendo que tinha que ir com ele para “resolvermos o nosso assunto” e reparando que ele usava de alguma ternura que dantes tinha para com ela, Mariazinha ainda sentiu o seu coração encher-se de esperança. Talvez as suas preces a Nossa Senhora da Lapa tivessem sido atendidas: António tinha talvez caído em si com justiça e amor.
E foi com entusiasmo e inocência que Mariazinha o acompanhou.
António levou-a a visitar uma casa na Travessa do Lameiro. Era pequena, mas muito bem dividida. Da porta da rua subiam-se quatro degraus de acesso ao corredor que dividia a casa em dois. Logo á esquerda, com uma janela que dava para a rua ficava a casa de jantar. Do lado oposto ficava a sala de estar, também com uma janela para o exterior. As duas divisões que se seguiam, também simétricas como as primeiras, eram um quarto com um quarto-de-banho e a cozinha que terminava onde começava um alpendre com acesso a um pequeno quintal. A casa estava limpa e asseada. A mobília era simples e a estritamente necessária. Mariazinha, enternecida pela visão futura de uma vida a três naquela casa tão bonita desatou num pranto inesperado. Tinham sido dias muito difíceis, estes últimos, os mais difíceis que alguma vez teve e pensando já tudo estar resolvido, o alívio que sentiu encheu-lhe o peito de lágrimas que lhe iam lavando a alma e apagando a angústia que trazia dentro de si. Mas a inocência e a bondade de Mariazinha turvavam-lhe o juízo e o bom senso e não a deixavam sentir o maligno a pairar à volta deles. António, deixando-a acalmar-se, acabou por lhe propor que esta seria a casa deles, mas que para isso acontecer, ela não podia ter esse filho. Tinha que o ir “deitar abaixo” numa mulher que o fazia muito bem e discretamente. Depois disso, esta passaria a ser a casa da Mariazinha e ele ficaria com ela sempre que viesse ao Porto. Quanto ao casamento, ele queria-o tanto como ela, mas ainda tinha os tais assuntos pendentes para resolver lá em Vila Real. Talvez daqui por um ano isso já fosse possível, assim como terem muitos filhos.
Mariazinha, ainda mal acreditando no que tinha acabado de ouvir, recusou fazer o que ele queria e num rasgo de auto-estima decidiu ali, naquele instante, que não queria mais nada com ele, que ficava tudo acabado entre eles!
Mas António, com um gesto brusco e impaciente, agarrou-lhe firmemente um dos braços dela e obrigou-a a sentar-se numa cadeira.
– Isso agora já não é possível, pelo menos enquanto não resolvermos o assunto do bebé. Hás-de compreender que eu não posso ter para aí filhos meus espalhados. Se quiseres acabar tudo, acabamos, mas ao acabar, acabamos mesmo com tudo, incluindo esse bebé!
– Como podes falar assim? É do nosso filho que estamos a falar, de uma criatura de Deus! Nem tu nem ninguém lhe pode cortar assim com a vida! António, eu sei que tu és bom, mas estás nervoso e aflito como eu estou. Acalma-te e tenta pensar melhor nisto tudo. Eu amo-te, tu sempre me dizes que me amas e o que poderá ser melhor do que casarmos e termos o nosso filho e o criarmos juntos? Não há nada que eu deseje mais do que tudo na vida, agora. Nós podemos ser felizes, meu amor… Por favor, pensa bem na felicidade que podemos estar a desperdiçar.
– Mas tu és surda ou quê? Eu já te disse que tenho assuntos pendentes em Vila Real e enquanto os não resolver, não posso casar contigo, muito menos ter qualquer filho! Ouviste? Não posso, nem quero!!
– Mas quais assuntos pendentes? Porque não me falas deles nunca? Diz-me António, conta-me o que te impede de casar comigo. Ajuda-me a perceber melhor…
– Nada que te interesse! Então, marquei para amanhã uma visita àquela mulher de que te falei. Vens comigo, não vens? Ou preferes que eu te leve lá à força?
Mariazinha, desolada e sentindo as suas forças a abandonarem-na, começou de novo a chorar sem saber mais o que dizer. António sacudiu-a e, rispidamente, pediu-lhe para que acabasse com a choraminguice, ainda alguém a ía ouvir lá de fora!
E lá estava ele, o verdadeiro inferno, a ser vivido em pleno pela Mariazinha. Os dias que se seguiram a este foram de uma provação extrema para ela. Não dormia, não comia e a angústia e sofrimento eram constantes. A pressão tenaz de António, traduzida em ameaças e futuras represálias se ela não fizesse o que ele queria, eram um pavor. Por duas vezes chegaram a ir a casa da tal mulher e por outras tantas vezes voltaram para trás sem nada ter sido feito. Mariazinha, apesar da sua fragilidade e de todos os seus medos de ficar sem o seu António, não perdeu por um minuto que fosse o seu instinto maternal e estava decidida a proteger o seu filho contra tudo e contra todos, mesmo contra o próprio Pai.
E no meio de tanta aflição, Mariazinha acabou por soçobrar e atirou-se nos braços da Tia, contando-lhe tudo por que estava a passar. Não aguentava mais fazer frente a António, que parecia o Diabo, sozinha. Precisava de desabafar e pedir ajuda a alguém e foi isso que fez com a Tia.
Sua Tia, inicialmente chocada pela gravidez da sua sobrinha, mais chocada ficou ao saber todos os detalhes das atitudes do António. Quis que ela lhe contasse tudo ao pormenor, que não lhe omitisse nada. Depois, fez-lhe um chá de Camomila e meteu-a na cama bem aconchegada. Corria então o mês de Março e o frio era ainda muito. Disse-lhe que agora tudo lhe parecia um pesadelo, mas que até os pesadelos acabam. Nada é eterno, só a morte. Que tinha feito bem em não ceder à vontade de António, era muito mau o que ele queria que ela fizesse. Juntas rezaram a Nossa Senhora da Lapa, para que Ela as iluminasse e ajudasse a encontrar a melhor solução.
Antes de a deixar dormir, a Tia, comovida com a desdita da Mariazinha, afagou-a carinhosamente e disse-lhe:
– Mariazinha, tu és como uma verdadeira filha para mim, embora não tenhas sido gerada no meu ventre. E mesmo assim, não consigo imaginar o que seria da minha vida se algum mal te acontecesse. Por essa razão, eu compreendo o que te faz defender esse teu filho que ainda nem sequer tem voz ou vontade própria. Quero que saibas que apesar de tudo, sinto orgulho em ti, por não teres consentido que fizessem mal ao teu filho. Não era o que eu queria para ti, teres um filho nos braços ainda solteira, mas são os desígnios de Deus. Nem tu nem eu agora podemos alterar nada. Mas, como boas cristãs que somos, temos a obrigação de acatarmos o nosso destino com resignação. E não estamos sozinhas nisto, Nossa Senhora da Lapa vai ajudar-nos… dorme agora, minha filha. Amanhã é outro dia e tal como os seguintes, deverão ser dias difíceis para nós…temos muito para pensar..
– Obrigada, minha Tia. Como eu gosto de si….
No dia seguinte, António, decidido a fazer marcação cerrada até conseguir o que queria, procurou Mariazinha em casa. Esbarrou-se com a Tia que não lhe franqueou a porta de casa, e que, fazendo o maior dos esforços para que ele não percebesse que ela já estava a par de tudo, deu a desculpa que Mariazinha estava muito indisposta.
– Não consigo perceber o que ela tem, passou a noite a vomitar e está com os intestinos desarranjados. Deve ter comido alguma coisa estragada de certeza. Tem paciência António, volta amanhã que ela já deve estar boa.
E António acreditou na Tia. Disse que voltava então amanhã.
Mas o amanhã chegou e, antes do António, veio uma visita inesperada: o Sr. Lino, dono da Mercearia Pátria.
Era uma Mercearia do Bairro da Lapa. O Sr. Lino orgulhava-se de vender os melhores dos melhores produtos aos seus clientes. Os legumes mais frescos, a fruta mais doce, feijões, milho, farinhas, frutos secos e açucares das melhores proveniências. Queijos e enchidos vinham os primeiros da Serra da Estrela e os segundos de Trás-os-montes. O Sr. Lino de quando em vez fazia uma viagem a um sítio e a outro para pessoalmente provar e escolher os melhores queijos e enchidos. E quando apareceu em casa da Mariazinha, foi precisamente no dia seguinte do seu regresso de umas dessas suas viagens a Vila Real. O Sr. Lino sempre teve muita consideração pela Tia de Mariazinha. Admirava-lhe a sua generosidade ao ter decidido educar sozinha a sua sobrinha. Em alturas de maior aperto financeiro, era o primeiro a sugerir que pagasse a conta da mercearia num mês mais a jeito. Pelas alturas da Páscoa e do Natal, enquanto Mariazinha era ainda criança, aparecia sempre lá em casa um cabaz da Mercearia Pátria. Dizia o Sr. Lino que era o que se costumava oferecer aos melhores clientes… mas a verdade era ainda mais simples: ele tinha amizade pelas duas e preocupava-se com elas, sem qualquer má intenção da parte dele.
Nessa manhã, vinha preocupado e pediu para falar com as duas. Era um assunto que lhes interessava, particularmente à Mariazinha. Tinha acabado de fazer a sua viagem de quinze dias em busca de bons enchidos e numa das Quintas em que os procurou, deu de caras com o António a entrar em casa, montado num garrano. Não foi reconhecido por ele, pois para além de nunca se terem falado, António estava longe de imaginar que aquele homem soubesse que ele era o namorado da Mariazinha. Perguntou ao Feitor que o atendia quem era aquele bonito rapaz. Foi-lhe dito que era o genro da Senhora da casa, marido da sua filha única. Perante o espanto do Sr. Lino, o Feitor, que gostava de dar à língua, continuou a contar tudo o que sabia:
– Ele não é boa peça, não Senhor. É mau carácter e por vezes chega a ser violento e cruel para quem o contraria. Casou com a menina apenas porque sabia o que ela irá herdar quando a Senhora morrer. Ninguém lhe conhece a família nem tão pouco sabem donde ele vem. Apareceu por aqui a dar-se ares de Fidalgo e conseguiu a atenção e o amor da menina até casarem os dois. Foi a desgraça dela…
– Aqui tudo o que o Senhor consegue alcançar com a vista e para além ainda desses montes aí defronte, pertence a esta quinta. Ainda tem mais duas propriedades no Vale do Douro que produzem o melhor vinho do Porto. Dinheiro não falta aqui, mas a Senhora, não sendo tola nenhuma, não abre muito os bolsos. Ele tem, tal como a menina, uma mesada para se governarem, que não é nada má. Ainda assim, ele consegue gastar a dele e a dela também. Anda sempre lá pelo Porto, ninguém sabe muito bem para que ele vai lá tantas vezes. Diz que tem lá um Tio que é Padre, muito velhinho e já acamado que precisa muito da ajuda dele. A verdade é que a menina, desde que casou com ele, nunca mais ninguém a viu sorrir, como dantes sempre o fazia. Aquilo vai para lá uma tristeza de partir o coração! Nem quando nasceu o filhinho deles ela se animou… passou foi a viver só para a criança.
Tudo isto foi pormenorizadamente contado pelo Sr. Lino, tristemente. Custou-lhe ser ele o portador da má notícia mas, em nome da amizade e confiança mútua, antes saberem por ele que por outra pessoa qualquer. E podiam ficar descansadas, era assunto que ficaria só entre eles, mas para isso a Mariazinha teria que acabar esse namoro envenenado.
Foi então a vez das duas se abrirem com o amigo. Contaram-lhe tudo o que se tinha passado nessa última semana, não escondendo nenhum pormenor.
Mariazinha ainda tinha muito para conquistar mas, daqui para a frente, tinha do seu lado estes dois aliados que eram incondicionalmente seus amigos. No meio do seu desgosto, ainda conseguiu sentir-se grata pelas graças recebidas nas pessoas de sua Tia e do Sr. Lino, tão amigos dela.
Mas o mal, o maligno, quando decide implicar com alguém em especial, é de uma insistência e perseverança indiscritível. A saga deste namoro maldito ainda não tinha terminado.
António apareceu lá em casa de novo, para falar com Mariazinha. E de novo a Tia lhe disse que ela estava indisposta. E foi com os olhos faiscando de fúria que António empurrou brutalmente a Tia para o lado e entrou em casa à procura de Mariazinha.
Aos berros, António queria que ela viesse com ele. A Tia, assustada mas com grande coragem, enfrentou-o e mandou-o embora daquela casa e para sempre. Que já sabia de tudo e de muito mais que ele nem sequer imaginava. Sabiam que ele era casado já há muito, que não prestava e que tratava mal a mulher.
António negou tudo, disse que eram tudo mentiras e invenções da Tia. E ela, toda abespinhada com o mau carácter dele, acabou por lhe dizer quem o tinha visto lá por Vila Real e tudo tinha contado: o Sr. Lino. Não havia pessoa mais respeitável e respeitador ali no Bairro. O Sr. Lino não mentia!
Tudo isto foi dito no calor do momento, em defesa de Mariazinha, inadvertidamente e sem a Tia pensar nas consequências.
António foi finalmente embora. Mariazinha ficou num pranto que metia dó. Acabou por confessar à Tia, entre soluços, que por vezes ainda o seu coração achava que o seu António ia voltar, carinhoso e amante como sempre tinha sido… mas agora, depois de saber quais eram afinal os seus “assuntos pendentes” em Vila Real tinha que o esquecer e para sempre.
Abraçaram-se as duas e Mariazinha bebeu as palavras reconfortantes da Tia que lhe dizia que um dia tudo ia passar, tudo acabaria bem e que teria o apoio dela.
Mas o Maligno ainda andava a rondar aquelas duas… o Maligno é assim, gosta de assediar, não larga as suas presas, regozija-se ao senti-las perdidas e desesperadas. A partir do momento que lhes caem na sua rede, dificilmente ele desarma o propósito de praticar o mal que tanto preza:
no dia seguinte, todo o Bairro acordou com a triste notícia da morte violenta do Sr. Lino. A mercearia tinha sido assaltada e decerto ele surpreendeu os ladrões em flagrante. Sovaram-no até à morte e atiraram o corpo para detrás do balcão. Ninguém ouviu nem viu nada. A Guarda, que tomou conta da ocorrência, declarou que nada tinha sido roubado. Nem sequer o muito dinheiro que havia dentro de uma gaveta, o apuro do final do mês.
Desenvolveram-se as mais variadas teorias, desconfiou-se de tudo e de todos, mas só duas pessoas sabiam quem devia ter feito aquele horror: Mariazinha e a sua Tia. E o terror apoderou-se delas as duas. O que iriam agora fazer?
Depois do funeral do Sr. Lino, que encheu por completo a Igreja da Lapa pois era uma figura muito querida e popular, Tia e sobrinha tristemente voltaram para casa. Conversaram sobre os seus medos, sobre a maldade de que António tinha dado provas de ser capaz e decidiram em conjunto então o que melhor poderiam fazer.
A Tia achava que não valia a pena enfrentar António, nunca iriam ganhar nada a não ser mais aflição e até mesmo qualquer coisa parecida com o que aconteceu ao amigo delas.
Depois de concertadas as duas no seu plano, esperaram pela visita de António que tinha ficado anunciada para essa tarde. Sabiam ambas que ele não era pessoa de desistir dos seus propósitos.
Quando ele chegou, com um meio sorriso sarcástico estampado na cara, à laia de cumprimento disse:
– Que pena aquilo do Sr. Lino… Tão vosso amigo que ele era! E agora já não pode conversar mais com vocês e contar mais novidades! Mas que maçada, não é? Quem teria feito um horror daqueles?
E o seu sorriso cínico expandiu-se por completo na sua cara trigueira e bonita.
As duas, sem palavras para trocar com ele, informaram-no que concordavam que Mariazinha fosse àquela mulher, para “deitar abaixo” o seu bebé. A única condição era que ela fosse acompanhada pela Tia que deveria assistir a todo o processo para garantir a segurança da sobrinha. A António não lhe pareceu mal isso, e logo ali ficou combinado para o dia seguinte encontrarem-se os três à porta da casa da tal mulher.
Que triste foi essa noite para as duas! Por mais que a Tia tentasse tranquilizar Mariazinha, dizendo-lhe que teria que confiar nela, ela não parava de chorar. Não houve chá, carinhos ou palavras que lhe arrancassem a tamanha angústia que lhe afogava a alma. Mariazinha estava tão infeliz…. e sua Tia infeliz estava, só de a ver assim. Metiam dó, as duas mulheres.
Logo de manhã cedo, foram para o sítio combinado. Já lá estava o António à espera delas. O seu ar de triunfo em nada tinha a ver com o ar carinhoso e de apaixonado de outrora. Mariazinha não conseguia deixar de pensar nele como se fossem dois homens diferentes. O de antes, bonito, amante, alegre e companheiro e que tinha desaparecido. O de agora, olhos maquiavélicos, arrogante, cruel e egoísta em extremo, ali bem à sua frente. Como foi possível uma transformação tão grande?
As duas entraram na maldita casa só de lá saindo duas horas depois. Mariazinha vinha cabisbaixa, andar muito pesaroso, parecia que levava o peso do mundo nos seus ombros e com uma tristeza estampada não só na cara como em toda a sua expressão corporal. Não olhou uma vez que fosse para António. Não o suportaria. Só queria desaparecer dali para fora o mais rápido possível.
– Vamos para casa, minha Tia, vamos…

(Continua)

Publicado por cristina sottomayor

Tudo o que eu escrevo aqui é um misto de vivências minhas e pura ficção. Mas mesmo na ficção, não consigo deixar de ser inspirada por momentos bons ou maus que vivi ou vi acontecerem à minha volta.

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