Rumo a Santiago Oitavo dia

 

Que dia esplêndido apanhei! Saí de Redondela logo de manhã cedo e fiz logo uma asneira: esqueci-me do meu bastão no Café do simpático Sr. Almeida. Quando reparei nisso, já tinha avançado mais de cinco quilómetros e nem pensar em voltar para trás. O caminho de hoje foi quase exclusivamente por entre bosques e montes. E a maior parte no Concelho de Soutomaior. Senti-me em casa, por tanto…
Os caminhos eram de uma beleza indiscritível mas também de muito dureza. Muita pedra e muitos desníveis. Mas a chuva não apareceu e o sol aquecia o meu caminho. Tudo estava tão, mas tão bonito! Foram horas sem ver vivalma, apenas pássaros e animais que pastavam pelos campos. Aproveitei para escolher um pau bom e com a navalha que me ofereceram, fiz um bastão para mim.
Muitas fontes com água fresca e cristalina onde me abastecia. Tudo cheirava tão bem! As Carvalheiras alternavam-se com Eucaliptais e pelo meio ainda se viam muitas vinhas com aquelas cores de Outono magnificas. Fartei-me de ver e ouvir o grasnar dos corvos. Parei dezenas de vezes para tirar fotografias, para descansar ou apenas para apreciar a paisagem. Os cheiros e os sons continuavam a fazer a melhor parte do meu caminho. E eu que ainda não sei exactamente porque decidi vir a pé a Santiago! Todas as noites, em conversas com outros caminhantes, todos sabem porque fazem este caminho. Todos têm muitas certezas, todos estão tão seguros das suas razões. Uns é por promessa, outros por superação deles próprios, outros vão em meditação, etc., etc…. e a Cristina só tem a certeza: a de que está a adorar fazer este caminho!
Ontem desencontrei-me da Peggy, a Canadiana. Mas ao longo do dia fui-me cruzando com o casal Americano e a Tereza, a tímida rapariga Alemã. Caminhamos por alguns pedaços juntos, mas tácitamente nos separamos para cada um seguir sozinho o seu caminho.
A única coisa que me está a chatear é o meu telemóvel. Ontem à noite nem sequer o consegui desbloquear. Faz-me escrever os meus resumos fora de horas, o que eu não gosto nada.
Fiz 24 quilómetros, sempre mais uns tantos dos que vêm anunciados nos livros. E esses quilómetros não anunciados são precisamente os que mais me custam. Durante os dois últimos de hoje, não sei lá porquê, só pensava em Táxis, Autocarros, Carros de bois, Carroças, Bicicletas, Trotinetes e em cavalos. Até cheguei a imaginar que o meu novo amigo cavalo me aparecia pelo caminho, com uma bela sela e me dizia:
“-Anda lá, sobe para aqui que eu levo-te até ao Albergue!”
Estava mesmo cansada, foi uma caminhada e peras!
Mas lá cheguei sã e salva ao Albergue da Virgem Peregrina e finalmente tive o meu merecido descanso. Estava cheia, a camarata. Nem calculam o concerto que foi os vários ressonares! Agudos, graves, Sustenidos… até assobíos não faltaram!
Hoje vão ser mais uns 24 quilómetros (by the book) mas já com menos subidas e descidas.
Para terminar, escolhi para vocês uma música especial. Ainda me lembro da primeira vez em que a ouvi numa Capela em Kingross, na Escócia. Eu vivia numa aldeia próxima, Milnathorth e não havia nenhuma Igreja Católica lá, só Protestante.
Até esse dia essa música era para mim nada mais do que para ouvir e dançar Slow, nas nossas festas de adolescentes. Foi para mim uma autêntica revelação ouvi-la tal como ela é originalmente: em louvor a Deus.
Hoje, pela beleza de manhã, por tudo o que vi e ouvi, não consigo imaginar música melhor para e exemplificar o meu dia glorioso. Ora oiçam…
e leiam a letra.

Morning Has Broken
Cat Stevens

Morning has broken like the first morning
Blackbird has spoken like the first bird
Praise for the singing
Praise for the morning
Praise for them springing fresh from the world
Sweet the rain’s new fall, sunlit from heaven
Like the first dewfall on the first grass
Praise for the sweetness of the wet garden
Sprung in completeness where his feet pass
Mine is the sunlight
Mine is the morning
Born of the one light Eden saw play
Praise with elation, praise ev’ry morning
God’s recreation of the new day
Morning has broken like the first morning
Blackbird has spoken like the first bird
Praise for the singing
Praise for the morning
Praise for them springing fresh from the world

Publicado por cristina sottomayor

Tudo o que eu escrevo aqui é um misto de vivências minhas e pura ficção. Mas mesmo na ficção, não consigo deixar de ser inspirada por momentos bons ou maus que vivi ou vi acontecerem à minha volta.

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