E foi também o dia em que fiquei sem o meu telemóvel. Por essa razão estou a fazer este resumo já depois de ter chegado ao Porto.
Saí de Pontevedra cerca das 8 da manhã. O centro antigo é bonito e bem cuidado. A Igreja de Nossa Senhora Peregrina, em forma de concha, é uma verdadeira beleza. Estava frio, muito frio, mas nada de chuva. Os primeiros quilómetros percorridos não tiveram graça nenhuma, enquanto não ficavam para trás os arredores da cidade.
Na primeira paragem que fiz para descansar, ainda consegui ligar e usar o telemóvel para fazer o relato do dia anterior, mas foi a última vez que o consegui fazer…. Foi também quase logo a seguir que encontrei pela primeira vez uma Porto-Riquenha, a Maribel. Uns anos mais nova do que eu, mas uma bem disposta e muito cativante pessoa. Depois de conversarmos um pouco, ainda andamos um bom pedaço separadas, eu deixei-a avançar… Continuava a não querer comprometer-me com ritmos diferentes dos meus. Eu gosto muito de andar, mas também gosto muito de parar e olhar para o que de novo e interessante me aparece pelo caminho. Gosto de tirar fotografias e gosto de perceber o que vejo, onde estou e raramente perco uma oportunidade para falar com as pessoas da zona que se predispôem a isso. Continuei a encontrar pessoas simpáticas. Galegos, tão parecidos com os Minhotos!
Mas voltei a apanhar a Maribel e nunca mais nos separamos. Exactamente como eu, ela não queria fazer da caminhada uma corrida para chegarmos mais depressa. Pela tarde fora atravessamos, subimos e descemos montes com bosques encantadores, sobretudo de carvalhos. Pouco tempo passava sem ouvirmos ou vermos um rio ou riacho. A humidade sentia-se sempre à nossa volta, muita sombra nas matas mais densas, escuras, mesmo! Vi imensos e variados cogumelos, até daqueles vermelhos com pintinhas brancas, parecendo enganadoramente deliciosos…
A Maribel é Psicóloga de profissão, com muitos pacientes Polícias, Bombeiros e da Protecção Civil. Todos profissionais que têm um elevado nível de stress pois assistem frequentemente a situações desesperadas e inimagináveis para nós, pois são os primeiros a socorrer as vítimas de furações, terramotos, tsunamis como um país de zona tropical que é a Costa Rica. As conversas que tivemos fluíram sempre com navegação por variadíssimos temas. Eu gosto de pessoas positivas e brincalhonas, tudo fica mais fácil! Os quilómetros nesse dia foram 25, os últimos já os fiz muito cansada. Nunca mais chegávamos a Caldas de Reis! Acho que foi mesmo o dia em que fiquei mais cansada… mas sempre com aquela imensa sorte de não ter nenhuma bolha ou qualquer coisa que me magoasse os pés ou as pernas. Em Caldas de Reis não havia Albergue Municipal, tive que escolher outro. Não tive muita sorte.. Encontrei-me com as pessoas que já faziam parte do meu grupo. Como foi bom ter sido carinhosamente recebida por novos e efémeros amigos genuínamente contentes por me verem chegar! Eram a Victória e a Ana (russas) a Brien (americana a viver na Alemanha) a Kim e o Harold (americanos) o Philippe e o Julien (franceses). A mistura ideal para jantares estranhos e o mais variados possíveis. As duas raparigas russas ganhavam sempre o prémio das comidas mais bizarras. Cozinhavam sempre e não dispensavam legumes ou saladas. Elas muito generosas e nós todos muito curiosos por tudo o que faziam, acabávamos por experimentar a confusa comida que elas faziam. Também faziam parte dos rituais do final do dia a trocas de cremes, analgésicos ou qualquer expediente para tratar problemas nos pés, principalmente as bolhas.
E eu, feliz por não precisar de nada disso, fui-me deitar para enfrentar o penúltimo dia em forma. Parecia-me inacreditável só faltar fazer apenas mais uns 46 quilómetros…